sexta-feira, janeiro 12, 2007

mistério meu



Meus versos são anuivados das sólidas águas
para o céu apenas das almas iluminadas

[aos poetas mortos e vivos]

sobrevoando às penas em minhas ondas
fulgentes de maremotos tão pequenas,
apenas,
nas minhas causas tão ilhadas que dosam
tantas letras nos tragos abalados

[e moldados por toda fúria
de mil pensamentos.]

Por toda emoção humana, tão desnuda
imunda e vazia.
Se não comparo ao vento meu atento
sente-se que o vento é lento
e minha vida é intensa
o que gratifico é meu contento
o que crio é sentença.

Por toda vida sinto a morte,
exploro a rota nos dedos
como a saga dos bemóis aos mols
e o canto do piano sem medo.

Se morrer é verdade
prego meus passos sem vaidade
de que falta faz o espelho,
se amanhã o que exala é cheiro?

Para todo medo à oportunidade
de abrasar a noite e gelar a tarde,
saudade!


É na intimidade que encontra o segredo
aliado sempre ao maior desejo
de achar a fonte do desapego
e buscar na juventude a maioridade.

Às vezes aguçar os sentidos
é importante, escutar o sopro
e sentir o gosto.
Talvez do sopro sintamos o cheiro da sorte,
ou até mesmo o gosto da morte?

12 comentários:

Anônimo disse...

CARTA DE UM EXILADO EM ROMA


E enfim a palavra pintou
Quatro simples letrinhas apenas
E pra Roma, meu mundo levou

E não é que as palavras pequenas
Como ódio, ira, dó, pena,
Falam mais que milhões de poemas?

Cá em Roma, onde vivo agora
Me alimento dos sumos. Das seivas
De romãs, maçãs e amoras.

É que em Roma, se a ordem se inverte
Os românticos recitam as regras.
Em sonetos, canções e suspiros.

E as regras de Roma são claras.
Todo homem de Roma é amante.
Toda mulher amada, valente.

E nos versos de Roma que escrevo
Em palíndromo digo, sem erro

“A roda da vida
À diva da dor”

Morreale, mi amore, a ti devo
Meu destino, e pronto: me entrego.

“Morrer em Roma”
“Viver no Amor”

Anônimo disse...

"exploro a rota nos dedos"
(...)
"Se morrer é verdade
prego meus passos sem vaidade"

muito bom issos.

bjo, aroeira

Helena de Oliveira disse...

É na intimidade que encontra o segredo
aliado sempre ao maior desejo
de achar a fonte do desapego
e buscar na juventude a maioridade.

Perfeito.

Brena Braz disse...

Gente, mas a mocinha virou poeta mesmo, hein?!
Amiga infinito, saudade infinita!!!
Aparece, viu?!
Bjão

Anônimo disse...

ela
buscou na juventude a maioridade.
ele
encontrou na maioridade a juventude.
e foi assim.
fizeram possível o improvável.
no fundo mais fundo.
intensos.
inteiros.
insensatos.
de tato.
olfato.
cheiro e som de mato.
e hoje são mais jovens e maiores.
mais belos e melhores.
mais vivos e sonoros.
somáticos.
somados.
a sós.
solstício e aurora.
aroma e amora.
pra sempre agora.

Vívian Oliveira disse...

Lindo, estou encantada...

Escreves divinamente, já te disse mas dever ser dito novamente...

Abraço!

Anônimo disse...

É IMPRESSIONANTE COMO EM 2007 ALGUÉM PODE FICAR INCOMUNICÁVEL.
JÁ ENTENDI.

Vívian Oliveira disse...

Oi querida,

passando pra deixar um abraço!

Anônimo disse...

q lindo, profundo...
amei!
lindo 2007 pra vc..e bjoO

Anônimo disse...

olha...só..
elação nas mãos....gostei...

Anônimo disse...

AMO suas palavras e me sinto em casa com elas!!

saudades!!

bjss
=*

Anônimo disse...

A POESIA E A PROPAGANDA


A poesia é feia.
A propaganda é linda.
A poesia é suja.
A propaganda é limpa.
A propaganda encanta.
A poesia espanta.
A poesia cria.
A propaganda copia.
A propaganda é eficiente.
A poesia, consciente.
A poesia faz história.
A propaganda faz novela.
A poesia vive agora.
A propaganda assiste da janela.

A poesia faz sentido.
A propaganda é ressentida.
A poesia grita. Não se contém.
A propaganda só fala o que convém.
A poesia é o credo.
A propaganda, o medo.
A poesia é concreta.
A propaganda é de concreto.
A propaganda é um concerto em harmonia consonante.
A poesia desconcerta a melodia. É dissonante.

A poesia é idéia.
A propaganda, imagem.
A poesia é séria.
A propaganda é só bobagem.
A poesia é o referente.
A propaganda, simulacro.
A poesia é signo solto na mente.
A propaganda, um objeto debaixo de um lacre.

A poesia mira.
A propaganda atira.
A propaganda pára.
A poesia dispara.

A poesia pensa.
A propaganda dispensa.
A poesia acredita.
A propaganda credita.
A propaganda some.
A poesia se consome.

A poesia é o tempo.
A propaganda, contratempo.
A poesia é o estalo.
A propaganda, só um intervalo.

A poesia é louca.
A propaganda, camisa de força.
A poesia dói um dia.
A propaganda vem e anestesia.

A poesia nasce, morre e vive.
A propaganda apenas sobrevive.
A propaganda envelhece.
A poesia rejuvelhece.
A poesia renasce.
A propaganda fenece.

A poesia é areia: seca, sólida e voa quando venta.
A propaganda é onda: fluida, puxa, leva e arrebenta.

A poesia é orgânica. Brota naturalmente.
A propaganda, sintética. Mistura de reagentes.

A propaganda é platônica. Promete o mundo perfeito da sorte.
A poesia é plutônica. Não teme o inferno no leito de morte.

A poesia dura a vida toda nos sonhos dos poetas, amantes, vagabundos.
A propaganda passa, assim à toa. Feito um susto de trinta segundos.

A poesia é Nietzche, Leminski e Pessoa. Inteiros.
A propaganda, Olivetto, Valério e Paulo Coelho.

A poesia é a palavra de alguém partido ao meio.
A propaganda é a coleção de auto-ajuda do Dr. Lair Ribeiro.

A poesia é Bach, Bethoven e Mozart regendo uma sinfonia.
A propaganda, a Tati Quebra Barraco gemendo em microfonia.


A poesia é estrada de terra.
A propaganda, pista de asfalto.
A poesia é estado de guerra.
A propaganda, só mais um assalto.

A propaganda joga golfe em condomínio de alto luxo.
A poesia fuma crack na beira da boca do lixo.

A poesia é uma puta velha que descansa em sua cama.
A propaganda, sua filha bela que dança. É só uma garota de programa.

A poesia é uma luz verde num poste que faz com que eu me perca e me encontre na cidade.
A propaganda, um letreiro luminoso num shopping. Vermelho. Grande. Que pisca, toma e cerca o mundo dos covardes.

A poesia vai pra cadeira elétrica, condenada por trair e matar.
A propaganda, pra esteira ergométrica. E cansada, corre sem sair do lugar.

(VEJA):
A poesia é um discurso do Subcomandante Marcos. Zapatista.
A propaganda, uma entrevista com o Aécio Neves, na revista.

A poesia é livre na vida.
A propaganda, sua escrava nobre.
A poesia é desimpedida.
A propaganda não fala com pobre.

A poesia é ventura.
A propaganda, mais uma aventura.
A poesia não se segura.
A propaganda se auto-censura.

A poesia é flecha.
A propaganda é o alvo.
Na propaganda, se fechas.
Na poesia, te abro.

A poesia diz o que sente.
A propaganda cala e, sim: consente.

A poesia é velha. E a cada dia mais adolescente.
A propaganda é nova. E cada vez mais decadente.

A poesia é uma criança pobre de futuro
A propaganda um adulto rico e pão duro.
A poesia é um velho jovem de pau duro.
A propaganda, uma menina de meia idade em cima do muro.

A poesia tem cabelo branco e não se penteia.
A propaganda tem pelo tingido, alisado e faz a sombrancelha.
A poesia é hippie e anda descalça em toda parte.
A propaganda é vip e usa salto alto na boate.

A poesia tem a cara lavada.
A propaganda se pinta com maquiagem.
A propaganda não encara nada.
A poesia se marca com tatuagem.

A poesia são as iniciais do nome do pai, no meu peito.
A propaganda, os pontos finais. Das promessas, do amor, do respeito.

A propaganda trabalha numa agência.
A poesia picareta, canta, ensina, estuda e peita até a ciência.
A propaganda agora está fazendo faculdade.
A poesia, há tempos já passou dessa idade.

A propaganda cheirou pó, tomou doce, bala e rivotril.
A poesia ficou triste, chorou, deitou e dormiu.

A poesia vive aqui.
A propaganda morre ali.

A poesia é isto que você está lendo agora.
A propaganda, aquilo que eu ouvi antes de você ter ido embora.

TOME CUIDADO: A PROPAGANDA AINDA EXISTE.
MAS ACREDITE: A POESIA SEMPRE RESISTE.