segunda-feira, maio 10, 2010

As coisas, parte I

Antes do mundo ser, lá longe no vácuo dissipado já existia uma vocação para os significados. Rodopiava solto um sorriso tímido que se transfigurava de grito. Dançava e cantava no espaço sem se dar conta do limite. Era metade robusta de homem com pedaço delicado de mulher. A falta das coisas ansiava a necessidade pela descoberta, como se soubesse que logo adiante existiria sentido praquilo tudo. Tinha paz por saber. Sabido que depois dos minutos passados só poderia ter experiência pelo tempo. O tempo era um amigo fiel. O ato se fazia corpo e a presença de luz dava contorno a tudo, ele - o sorriso estérico, sabia codificar risco por risco e a arranhadura era uma pequena sensação. Potência refletida. S-e-n-s-a-ç-ã-o! Após uma, o vasculhar de cada duas e a busca constante pelo estado múltiplo: sentir, absorver, mirar, compreender e dar significado pro que era treco, isso, isso, isso, aquilo ou outro, coisa e tal, troço, palavras, corpo, caras, tapas, sons... abrir a bola do mundo com as mãos, cavar o miolo, tirar a massa da massa, cheirar, engolir, degolar, tirar mais massa, vomitar, sangrar, tirar mais massa. S-e-n-s-a-ç-ã-o! Quando tudo estava na borda o sol era claro, as coisas davam vontade e a curiosidade era a própria vida. Depois da borda, o sorriso ficou amarelo, o grito engasgado, o sol não chegava, a massa era crua e a descoberta (...) só uma necessidade dura...

2 comentários:

spider reclamão disse...

Muito boa poesia, gostei demais.
Escreve muito bem, continue assim.

marden disse...

pensava no Moreno?