segunda-feira, setembro 24, 2007

com-penetração

... Daí eu estava lá, me atirando em caraminholas e procurando um tema pra tirar do pensamento o que me teima escrever. Já estava exausta por não encontrar nada que desse anseio e delírio (porque pra escrever tem de partir uma vontade gigante, delirante, de colocar fora o que não se pode mais ficar dentro). Não queria falar das coisas mais óbvias que todas as pessoas se atentam em paparicar e falar e rebuscar, dos tipos deuses; ciúmes; traições; política fajuta que sempre acaba onde recomeça bem e; blábláblá. Que saco. Tantos signos para não encontrar um. Mas quando a gente se contém de tudo que é óbvio o óbvio nos contém. Foi aí que partiu as confusões mentais e dei de frente com a cara na caixa de entrada do e-mail. No ato de clicar a seção enviar e receber, que recebi um comunicado de algum remetente desconhecido: “não banalize o amor”. Como se não bastasse, fiquei ardida. Ardida e diferente, algo de muito nervoso infiltrou-me pelos orifícios ocultos do meu alado ser, que nem as asas da coragem deram conta de armar vôo, se atrofiaram. Banalizar? Ainda mais eu, não banalizo nada e realmente o tal do amor anda me arriscando nos últimos tempos e eu, eu estava recitando por aí o ridículo amor... O que era incalculável a meu ver de um dia falar sobre esse tema que sempre achei piegas. O Amor! Que tema chulo onde termina com or e só rima com dor, temor, fedor, triturador e tudo que é um horror. Não acreditei que uma frase de desfecho pudesse me fazer tamanho efeito. Efeito sim, porque me senti anestesiada e perdida nesse defeito da vida. Paralisei no sentido léxico de amar. Fui refletir. Fiz uma viagem de sensações. E parei na reflexão do verdadeiro significado bem decifrado de amar. E foi só sentido. Que a gente sente é um fato. Que a gente se incomoda é um fardo. Mas ainda tem muita gente que não sabe sentir. Mas eu estava ali, de prova, e o que sabia era sentir. Podia gritar pro meu ego que de agora em diante sou apta a entrar pra lista dos que um dia ousaram falar do amor. Eu agora posso com todas as letras falar que amor é realmente piegas e ridiculamente verdadeiro. Porque fiquei parada, de fora pra dentro compenetrada pensando, que o amor ultrapassa de dentro pra fora, a penetração.


O último livro que li foi “Carta a um jovem Poeta” do Rilke, ele levanta os questionamentos dos principais assuntos da vida e apresenta-os ao jovem Kapus de maneira a expressar um lindo lirismo (e demonstra que lirismo nada mais é que a própria vida). Dentre os questionamentos, obviamente, questiona o amor. Rilke trata o amor não como sentimento leviano, mas muito contrário disso, carrega-o como um peso, mas um peso seguro de se guardar, de não deixar qualquer tempo e vento varrer. Diz que os jovens – a maioria – não sabem amar. Que os jovens amam repentinamente, exageradamente e se entregam à perturbação do sentimento. E do mesmo modo, saem do amor sem despedir-se e despedi-lo. E considera importante a solidão. Que só quem permite sentir a presença da solidão pode se solidificar e partir para além do imaginário de amar.

4 comentários:

Daphne disse...

Bonito, dona entusiasta!

Daphne disse...

Bonito , dona entusiasta.

Anônimo disse...

Dani Morreale,

Assim como você, acho as palavras indispensáveis.

Achar, no sentido de encontrá-las e supô-las - simultâneas.

E, assim como Rilke, considero a Solidão fundamental. Assim como, parece-me, você. Ao menos nos momentos da criação. Só os momentos de gozo da criatura é que sou capaz de reparti-los.


Gostei dos teus textos, e já não pela primeira vez. Já estive aqui antes, deliciando-me.

Abraços, flores, estrelas..


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Anônimo disse...

OIIIIIIIIIII..MEU NOME É Lívia, tenho 25 anos e estou apaixonada pelo seu blog, gostaria muito de entrar em contato com vc. Por favor..rs liviamorgado@hotmail.com