segunda-feira, março 10, 2008

A poesia e o dia

Imagem: Jean Fautrier


Hoje amanheci antes do sol, era escuro e meus olhos queimavam no clarão brando de minha ânsia.

O sonho foi floral; havia girassóis, tulipas, lírios e um sorriso de criança que corria sobre um carrinho de rodas de rolimã num labirinto com cheiro de grama fresca.

As risadas da inocência contagiaram meu sono. Foi assim que acordei.

A janela do quarto ria de mim, parecia continuação do sonho, era apenas um despertador pássaro, beija-flor ou talvez bem-te-vi, que permanecia fazendo festa ao espreitar o sol nascer e meu particular amanhecer.

Entre o espreguiçar com direito a bocejos e um abrir de olhos grudentos, sentia o inicio da jornada tomada pela sensação da vida – a sensação da vida é o êxtase da alma.

Quando a gente acorda é sinal de que ontem realmente foi-se, bom ou ruim. Mas que o daqui a pouco vai chegar e é preciso acelerar os ritmos agora.

Quem acelera os ritmos é o coração.

Nos últimos tempos meu coração não é o mesmo, está bombardeando rápido o ritmo.

Levantei-me contorcendo inteira e saltei da cama, feito minhoca. Senti que hoje era um dia especial. Dia de contar felicidade pro meu ser único. Hoje também é único.

Dias assim costumo escrever poemas. Forma simples de falar o simples. Daquele dia, de ontem, de agora e do que pode vir a ser.

Dentre todos os critérios da poesia, acredito que há uma boa forma, que passa pela estética e técnica de expressar ao conteúdo da fórmula mágica de conter.

Não adianta escrever poesia sem colocar nela suas mãos. A poesia é feita pra tocar, às vezes toques suaves e outras vezes toques pesados. São toques. São trocas.

O final da tarde é como um final de livro, não vai mudar o protagonista. Nem o que foi narrado.

O começo do dia também.

Perceber o simples. Contar alvorada. Escrever os sonhos.

Assim que faço. Assim que dou ação para minha vida. Hoje acordei feliz.

3 comentários:

Anônimo disse...

Dani,


"O final da tarde é como um final de livro, não vai mudar o protagonista. Nem o que foi narrado."

Belíssimo!

Mas muda o leitor: saio daqui outro.

Abraços, flores, estrelas..

Samantha Abreu disse...

Amore...
e dias assim, ainda que pouco e raros, compensam todos os outros...


Um beijO!

Deusdedith Carmo disse...

Muito interessante seu trabalho tanto graficamente como no conteúdo. Voltarei mais vezes para ler com calmas estes lindos poemas.
El Carmo
http://el-carmo.sosblog.fr
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