quarta-feira, abril 09, 2008

Cata-ventos


Me deixa oculta? Só preciso limitar a circunferência. Dá licença? Sei que posso aumentar meu raio da sua distância, só isso! Não quero ramos verdes, flores brancas nem um poema cuspido e declarado.

Não quero nossa insistência de um instante paladar. Preciso devorar, comover e confessar as insatisfações por ouvido abaixo. Que o percurso leve até os brônquios, braços e coxas a exultação de leveza e bem-estar.

Que me invadam os nervos, não preocupo, porque estou armada até os dentes contra todos os desamores.

Aprendi a ter paciência quando meus ouvidos não agüentaram esperar a chatice da febre no cérebro e no mundo passar.

Queria ouvir os barulhinhos bons e ruins. Agora não, fico amiúde com meus ruídos e rumores, sem querer ouvir nem admitir nada. Acolhida pela transição de tempo em era. Vivo a olhar longevo, como se minhas escolhas não fossem nada além dum único horizonte.

Sem apelos!

Esperar não é diminuir a inconseqüência, mas uma felicidade para cultivo da calma. O que espero não vai além de mim. Engrandeço o estado do espírito e sinto o sorriso despertar como fazem as pestanas pelas manhãs.

Aguardo mas caminho, com ou sem atos. A noite passa num toque de sino embaralhando as brisas e sonhos, soando a chegada da nova hora. Uma noite vale o sentimento por toda história.

Habitar é saber partir. Em todo tempo o tempo todo. Partimos num susto, que se desenvolve entre soluços e desmembra-se numa invenção. Inventam-se mundos e fundos. Receitas e desenganos. E a gente se ajeita sem fronteira, sem medo de cair da cama.

É assim que vou...

Engaveto o passado nas estantes de labirinto, deixo perder.

Abro também as portas, para novas e futuras memórias apresentar-me. Acordar é bocejar o mundo, invadir a presença onde ela deve realmente estar.

Empurrar a sorte para os cata-ventos, isso sim é um exercício equivalente para quem se permite aventurar.

9 comentários:

Anônimo disse...

vertiginoso! :)

Daphne disse...

Você não é o vento, você é o verbo ventar. Ventar é intransitivo. Um fenômeno da natureza. Logo, não precisa de complemento nominal, adverbial, ou advérbio. É uma ação de sentido figurado. Ora onde já se viu uma pessoa ventar. Eu já.
Vente. In vente.

Anônimo disse...

Danielle, parabéns, show de bola, uma maravilha, vc ainda irá se mostrar para o mundo.
Bj
Uncle M.

Bianca Feijó disse...

Fiquei encantada com o dom na qual vc brinca com as palavras...

Todas concatenadas e, qualquer coisa que eu venha a falar, vai parecer muito pouco diante de um texto tão intenso e sublime!

Adorei sua casa e voltarei mais vezes!

B.E.I.J.O.S

Anônimo disse...

"Habitar é saber partir." Gostei muito desse espaço virtual. Visitarei mais vezes. Tenho que - tentar - ler o resto todo!!

Refúgio disse...

Tá certo Dani!

mary disse...

como te disse, a gente realmente está na mesma sintonia...

Rafael disse...

Como "daphne" falou que "você é o verbo ventar" eu te digo:

apenas continue soprando...melhor que se deixar levar pelo vento é se fazer o próprio. Isso é raro.

Anônimo disse...

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